O que a instabilidade do país tem a ver com o carro que você quer comprar
O que a instabilidade do país tem a ver com o carro que você quer comprar
Cenário econômico e político do Brasil leva a um clima de incerteza que compromete as escolhas das famílias (e atrasa o consumo)
Até aqui, as notícias da indústria automobilística não eram tão ruins. O maior percalço era, claro, a falta de semicondutores, o que desestabilizou a produção em todas as linhas de montagem do mundo.
Mas o mercado dava mostras de recuperação do tombo provocado pela pandemia. E as filas de espera por novos modelos davam a sensação de que a demanda acima da oferta era sinal de que, se as montadoras conseguissem produzir mais carros, eles seriam vendidos.
Nas últimas semanas, no entanto, o clima de mal-estar provocado por diversas variantes macroeconômicas pesou no mercado financeiro, preocupou empresários e trouxe novamente um gosto amargo para quem precisa pagar a conta da luz, ir ao supermercado e não sabe se vai conseguir fazer aquela viagem ou trocar o carro.
A crise hídrica, o endividamento das famílias, uma pandemia ainda fora de controle e uma taxa de desemprego que há meses não fica abaixo de 14% despejaram mais angústias, transformando o dia a dia da população numa incerteza tão cruel quanto tentar adivinhar até quando teremos que usar máscaras em público.
Para tornar o cenário ainda mais crítico, desde o 7 de setembro a polarização política se intensificou. Embora muitos tenham por princípio separar a política de qualquer outra discussão, desta vez a crise entre poderes, além de outras mazelas que definem a agenda em Brasília, tem interferido de forma contundente na rotina da população.
Não são poucos os analistas que já apontaram, por exemplo, a instabilidade política como principal fator de elevação do câmbio. A julgar pelos resultados da balança comercial brasileira, o valor do dólar estaria, dizem, pelo menos R$ 1 abaixo das últimas cotações.
Grande parte dos preços dos insumos da indústria automobilística é dolarizada. Com preços em torno dos R$ 45 mil, os carros mais baratos no Brasil subiram entre 15% e 18% apenas no primeiro semestre. Quase empataram com a conta de luz, que acumulou mais de 21% desde janeiro. No cenário de hoje, os fabricantes não estão dispostos a baixar os preços só para vender mais. Já deixaram claro que a rentabilidade é prioridade.
Além disso, a inflação faz os juros dispararem, o que torna mais caro o financiamento de um veículo. E nem todos têm a certeza de que continuarão empregados daqui a 36 ou 48 meses, quando a última prestação vencer. Nesse panorama desalentador é fácil supor que os próximos meses serão árduos para a atividade econômica e deixarão o consumidor mais inseguro.
Mesmo assim, o carro continua a ser um sonho de consumo de muitos brasileiros. Dificilmente é substituído por qualquer outro meio de transporte quando o assunto é a busca da sensação de liberdade. Para quem pode adquirir um, é uma forma até de compensar os problemas. Mesmo em dias sombrios, não custa sonhar.
Fonte: Auto Esporte
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